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“Ah, mas era só um cachorro!” e a dor de cada um


Recentemente uma pessoa muito próxima perdeu um companheiro de quase uma década e meia. Era um autêntico vira-latas simpático, capaz de saltar o dobro se sua altura em pé, tão contente em receber carinho que mal permitia que o fizessem, incapaz de ficar quieto. Um cão de porte médio, pelo curto, cor de chocolate, um cão.

Era um ser que havia feito parte de um percurso com muitas histórias de seu dono, que causou mudanças de casa, que foi considerado em outras mudanças de casa. Era aquele animal inseparável daquele que o alimentava nos dias bons e dias ruins, que viu a filha deste nascer e crescer e que a protegia quando necessário.

A perda deste cão causou grande tristeza ao seu dono e comoção entre alguns amigos frequentadores de tantas casas que, independente de gostarem daquele cachorro saltador ou não, demonstraram essa capacidade de ver a dor do outro e colocar-se em seu lugar chamada empatia.

É a dor desta perda justamente que é eventualmente questionada. Chorar por um cachorro? Um gato? Um peixe, então? É só um animal! Tudo o que ele quer é que lhe deem comida, um canto coberto para dormir, não é mesmo?

Parece haver uma espécie de tabela com valores distintos de dores permitidas e que podem ser expostas. E é isto justamente o grande equívoco. A dor é algo individual. Da mesma maneira que uma pancada na mão será sentida de maneira diferente entre duas pessoas diferentes.

Esse princípio é o centro do atendimento psicológico. O psicólogo não irá determinar se devemos ou não nos ressentir por algo. Não importa se o que se apresenta é a tristeza pela perda de um objeto se foi um rompimento amoroso. O que importa no consultório é que ali existe um sentimento que se forma por conta do significado daquela perda para aquele indivíduo. Um objeto qualquer pode não ser apenas um objeto, pois ele pode estar impregnado de histórias que merecem ser ouvidas. Um cão pode ter sido o companheiro fiel de uma trajetória e essa história merece ser conhecida. Assim como o rompimento de uma relação evidentemente traz importantes detalhes do que houve entre duas pessoas.

Todas as dores merecem atenção. Porque o que pode causar ainda mais dor é uma ferida não cuidada, não importa o tamanho dela.

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