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O APP que envelhece e a tal finitude


Nos últimos dias, um aplicativo que simula como ficaremos mais velhos viralizou e tem causado um grande frisson não só entre os que tentaram se imaginar mais velhos e até repetiram a operação para se verem mais anciãos ainda mas também entre os que preferiram não entrar na brincadeira.


A coisa começou a ficar séria quando algumas pessoas perceberam uma razoável semelhança com os pais ou outros parentes mais velhos, causando certo desconforto. As redes sociais pipocaram com as mais diversas reações. Algumas pessoas se questionaram sobre o quanto têm cuidado de si, desde o uso de creme antirrugas a cuidados com o corpo e o coração. Há quem não tenha mesmo gostado nada de olharem para um retrato que de alguma forma lhes dizia: é assim que você vai ficar quando envelhecer. Há também quem não se viu ali de forma alguma e convidou outras pessoas para o jogo.


A atriz Fernanda Montenegro certa vez disse: “Essa palavra, ‘velha’, bem, deveriam inventar outra, porque ela já vem contaminada de coisas como a decadência e a finitude”. E é justamente por se estar impregnado desse conceito que a simulação facial da velhice tem caído mal para algumas pessoas. Estamos afinal constantemente contagiados por conceitos que, se desprovidos de questionamentos e reflexão, transformam-se facilmente em regras.

O fato é que começamos a envelhecer desde o dia em que nascemos.


Quando eu ainda estava na faculdade de psicologia, ainda no primeiro semestre, lembro-me de uma professora dizer na lata: “A cada dia em que vivemos estamos mais perto da morte”. Um tapa na cara daquela gente jovem reunida, não? O chacoalhão necessário para começarmos a refletir: questionamentos sobre a vida surgiram e continuarão surgindo em diferentes momentos dela. Na adolescência, do que fazemos de nossa vida adulta, nossas escolhas e o que escolheram por nós. Surgem termos como crise dos 30, dos 40, dos 50...de como estaremos amparados na tal velhice.


Tudo isso enquanto a única certeza da vida é que um dia ela acaba, coisa que evitamos falar. A vida pode até ser vista como uma corrida contra o tempo. E podemos sim fazer dessa corrida a melhor maneira de viver e viver da melhor maneira possível. Não dizem que a melhor parte da viagem é o caminho e não o destino?


Pois vamos lá a nossa viagem. Não será um app qualquer, que segundo informam, inclusive serve para capturar informações a fim de aprimorar um programa xis, que nos dirá como estaremos daqui a 20 ou 40 anos. Somos nós mesmos e o que decidimos fazer durante nossa caminhada.


É mesmo saudável refletir sobre como estamos nos cuidando, um pouco como pensar que calçados usar nesse trajeto. Nem sempre poderemos ter o melhor sapato, mas poderemos fazer o melhor com o que temos. Se alguma escolha ou acontecimento de percurso lá atrás deixou marcas – o que faz parte de qualquer caminhada-, novos caminhos podem ser percorridos para dar lugar a novas histórias e até reinventar e ressignificar as antigas. Você pode brincar à vontade com simulações de futuro, mas você é quem faz as regras de como ele será!

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